expresso.pt

Sem combustíveis verdes dificilmente haverá descarbonização nos transportes

 

Um dos mais impactantes vetores de ação climática é a substituição dos combustíveis fósseis por alternativas menos poluentes. Este esforço ajudará a descarbonizar o sector dos transportes que contribui para 16% das emissões de CO2. Nesta área há ainda um longo caminho a percorrer, já que as alternativas mais sustentáveis representam 4% a 5% do consumo mundial de combustíveis para transporte.

A energia elétrica é geralmente a primeira alternativa em que pensamos. No entanto, setores como o transporte aéreo, rodoviário pesado ou marítimo necessitam de uma densidade energética (quantidade de energia gerada por uma unidade de volume) superior à que a eletricidade armazenada em baterias pode oferecer, o que explica, em parte, a manutenção dos combustíveis fósseis como fonte preferencial. Existem soluções pontuais e menos poluentes, tais como o gás natural, que poderão, em certos casos, apresentar-se como solução de transição. Contudo, os combustíveis com baixo teor de carbono (verdes) são a potencial solução estrutural e de longo prazo.

Estes combustíveis podem ser produto de matéria orgânica e hidrogénio (ou combinação de hidrogénio com outras moléculas, chamados combustíveis sintéticos).

Os primeiros são considerados biocombustíveis, idealmente de origens que não possam ser usadas para alimentação (designados por biocombustíveis de segunda geração), como óleos alimentares reciclados, resíduos agrícolas ou celulose. Importa referir que neste caso, para os combustíveis serem considerados verdes, é necessário que não causem a destruição de áreas com alta absorção de carbono, como florestas.

(…)

De facto, os combustíveis verdes albergam várias vantagens, como a superioridade em termos de densidade energética face à alternativa elétrica, a possibilidade de utilização de energia renovável na sua produção e, nalguns casos, como nos biocombustíveis, a sua adoção pode ser acelerada pela combinação com combustíveis de origem fóssil, utilizando parte da infraestrutura e meios de combustão já existentes. Por outro lado, as matérias-primas utilizadas nestes combustíveis têm um abastecimento potencialmente mais local (por exemplo, matéria ou energia renovável), garantindo uma menor pegada ecológica, uma maior resiliência na cadeia de valor e maior segurança e independência energética.

(…)

Apesar destas limitações os combustíveis verdes poderão ver o seu mercado global ascender a 50 mil milhões de dólares até 2030. No entanto, para que as opções de baixo teor de carbono possam ganhar terreno e competir contra a utilização predominante dos combustíveis fósseis serão necessários não só um aumento de eficiência e escala, mas também um maior compromisso entre os vários agentes envolvidos, suportado por uma regulação favorável.

(…)

Considerando todos os fatores, é clara a oportunidade que os combustíveis verdes representam do ponto de vista económico e ecológico. Tanto a nível global como nacional, o caminho de maturidade já está em curso, no entanto, perante tamanha incerteza geopolítica e energética, é necessário que os principais atores continuem envolvidos, colaborantes nesta direção clara, que tira partido das várias soluções em cima da mesa, pois o caminho para a transição energética nos transportes não será feito de “balas de prata”, mas sim de um portefólio equilibrado de fontes de energia mais sustentáveis.

Texto de Opinião de Carlos Elavai, Managing Director e partner do Business Consulting Group

 

Para continuar a  ler a notícia original AQUI