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O papel dos combustíveis de baixo carbono na descarbonização da mobilidade

 

A emergência climática em conter o aumento da temperatura global fez com que a União Europeia (UE) assumisse o compromisso de tornar-se neutra em emissões líquidas de gases efeito de estufa (GEE) até 2050, melhorando o uso eficiente de recursos, transitando para uma economia limpa e circular, restaurando a biodiversidade e reduzindo a poluição.

Através do conjunto de propostas legislativas “FIT FOR 55” e do recente plano “REPowerEU”, a UE pretende não só materializar este compromisso, regulamentando a redução das emissões de GEE para pelo menos 55% até 2030, mas também minimizar a sua dependência energética. Neste último, as principais linhas orientadoras visam aumentar a resiliência do sistema energético europeu, promovendo a poupança energética, a produção de energia de origem renovável e a diversificação das fontes de abastecimento.

Na sua estratégia para combate às alterações climáticas, a mobilidade é um dos principais eixos da UE. Fomentando uma transição para a mobilidade sustentável através da descarbonização e modernização do setor, a UE pretende reduzir as emissões em 90% até 2050 no setor dos transportes. Neste setor, que representa cerca de 25% das emissões de GEE da EU, mais de 70% corresponde ao transporte rodoviário, sendo o restante peso repartido igualmente pelo transporte marítimo e aéreo.

Mas para as reduzir as emissões num setor com grande impacto na economia e sociedade, a estratégia adotada deve ponderar todas as soluções viáveis para a sua descarbonização, tanto a nível dos modos de transporte, como dos vetores energéticos de baixo carbono utilizados, promovendo a economia circular das matérias-primas e dos seus ativos. O mais recente estudo da ACAP indica que, em 2021, a idade média da frota portuguesa de veículos ligeiros de passageiros era de 13,2 anos (superior ao 11,8 anos da média Europeia), com 63% da frota acima dos 10 anos e 25% com mais de 20 anos. No caso do transporte de mercadorias, ligeiros e pesados, esta situação agrava-se, sendo a idade média de 14,9 e 14,7 anos, respetivamente. Adicionalmente, segundo a Valorcar, em 2020, a idade média de veículos em fim de vida era de 22,6 anos, refletindo o envelhecimento do parque automóvel nacional. Estes indicadores fazem transparecer a importância da aposta na descarbonização da atual frota automóvel, com motores a combustão interna, uma vez que os veículos novos, comercializados hoje, ainda poderão estar em circulação após 2040.

Neste sentido, e a par com a mobilidade elétrica e hidrogénio, a utilização dos combustíveis de baixo ou nulo teor de carbono, produzidos a partir de matérias-primas alternativas, nomeadamente biomassa sustentável, resíduos, bem como a partir de eletricidade proveniente de fontes renováveis e CO2 para a produção de combustíveis sintéticos derivados do hidrogénio, torna-se indispensável para a descarbonização da mobilidade de forma progressiva e inclusiva. É com esta missão em mente que surge a Plataforma para a Promoção de Combustíveis de Baixo Carbono (PCBC).

Os membros da Plataforma PCBC operam em diferentes etapas da cadeia de valor dos combustíveis para a mobilidade, desde a matéria-prima à produção do combustível, incluindo o seu fornecimento e distribuição e utilização, incluindo uma parte muito substancial dos setores dos combustíveis renováveis sustentáveis em Portugal e dos seus consumidores. É importante não esquecer todos os tipos de mobilidade, para além dos veículos ligeiros, há que desenvolver soluções onde a eletrificação parece menos viável no curto / médio prazo, como o transporte rodoviário pesado de longa distância, o transporte aéreo e o marítimo.

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Artigo de Ana Rita Gomes
Apetro | Membro da Plataforma PCBC para a revista nº404 da ANTRAM

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