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Descarbonização da mobilidade. Quais as alternativas possíveis?

Em entrevista, a EPCOL, ABA e Zero, mencionam as razões e os porquês das novas formas de energia.

A descarbonização da mobilidade é uma preocupação real. Enquanto a população continua a gozar de escolha, ora em veículos a combustão tradicional, ora híbridos, ora elétricos, os planos da União Europeia são outros. Quer-se uma eletrificação eficaz e eficiente em todos os estados membros, o que poderá resultar em fortes injustiças sociais (e não só).

Uma das medidas que mais impacto tem, mas para a qual poucos estão preparados, ocorre já em 2035. Muito tempo, dirão alguns, mas uma dor de cabeça para os fabricantes europeus e infraestrutura geral.

Contudo, as alternativas para uma descarbonização da mobilidade são vastas, e em entrevista ao Jornal de Negócios, António Comprido, Anabela Antunes e Pedro Nunes, partilham as suas visões sobre a problemática.

“Se quisermos eliminar os combustíveis fósseis, mesmo reaproveitando todos os resíduos e havendo um foco na economia circular, pode não ser suficiente para descarbonizar todo o setor dos transportes – rodoviário, marítimo e aéreo. Teremos de utilizar todas as formas de energia complementar.”, quem o afirma é Anabela Antunes, a nova presidente da Associação de Bioenergia Avançada. Não descartando a necessidade da mobilidade elétrica, a representante da ABA é de opinião que um mix energético é essencial à redução de emissões.

O mesmo pensa António Comprido, secretário-geral da Epcol, Empresas Portuguesas de Combustíveis e Lubrificantes (ex-APETRO). Para o gestor, a importância dos combustíveis líquidos é essencial. Não apenas porque as tecnologias e hardware dos diferentes tipos de veículos e peças industriais estão assim “formatados”. Mas porque a celeridade em reduzir gases com efeito de estufa obriga a que os combustíveis de baixo carbono ganhem relevância.

“Os biocombustíveis, particularmente os avançados feitos a partir de matérias dos residuais, terão o seu lugar e, portanto, tudo isto vai coexistir, como disse, dependendo muito das circunstâncias de cada país”, esclarece.

Imagem ilustrativa com um dedo clicando num botão que indica E-Mobility START, numa alusão à notícia relacionada à mobilidade e alternativas energéticas. A descarbonização da mobilidade é um assunto importante, o qual os consumidores ainda não parecem ter real atenção.

Descarbonização da mobilidade com elétricos. A visão (quase) única.

Contudo, as opiniões quanto a alternativas possíveis, dividem-se.

Pedro Nunes, da ZERO, avalia não apenas o que há a favor e contra a mobilidade elétrica. Também mostra em que medida os biocombustíveis podem não trazer benefícios.

Não deixa passar de lado o escrutínio sobre o fabrico dos veículos e a necessidade de matérias-primas críticas. Refere, e bem, que a extração mundial acarreta um brutal impacto e pegada ambientais. E simultaneamente afirma que existem vários entraves ao desenvolvimento das infraestruturas. A saber, a pressão sobre a rede elétrica, as estações de carregamento e os custos iniciais agravados, que irão cair sobre os consumidores.

Ainda assim, considera o corte com emissões de carbono (do veículo já em estrada), a qualidade do ar, a utilização de energias renováveis, como maiores valias.

Aponta que “os veículos elétricos têm custos operacionais e de manutenção mais baixos, promovem a independência energética e podem criar empregos, operando de forma mais silenciosa, reduzindo por isso a poluição sonora” entre outros atributos.

Por outro lado, sobre os combustíveis de baixo carbono, deixa alguns alertas. Mesmo não se utilizando culturas alimentares (um risco que em Portugal, por exemplo, não se corre), a produção e uso de biocombustíveis avançados levanta alguns problemas: “Isto porque, por exemplo, a sua queima origina emissões de gases com efeito de estufa que pode demorar anos, ou décadas no caso da madeira, até que o carbono emitido seja novamente capturado, e de poluentes que degradam a qualidade do ar.”

Por outro lado, muito se tem falado da origem das matérias-primas, como as dos óleos alimentares usados importados: “embora os óleos alimentares usados ou a gordura animal possam ser matérias-primas mais sustentáveis, as quantidades disponíveis são muito limitadas, e há ainda o sério risco de fraude na cadeia de produção destes produtos.”

 

No meio das opiniões algo é certo: a necessidade de se verificarem as melhores formas de redução de emissões. Seja por mix energético ou aplicação de plataformas como a Mobilidade em Serviço. Ao mesmo tempo, a adoção de novas políticas de promoção, tanto passam pela divulgação da mobilidade elétrica, como pela informação da sociedade.

O esclarecimento generalizado e bem estruturado de diferentes opções, é o que irá permitir a descarbonização da mobilidade no futuro próximo. “Educar a sociedade sobre os combustíveis verdes e esclarecer informações menos corretas, aumentando assim a confiança dos consumidores nessas opções”, é o que defende a ABA (e também a PCBC).

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