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Dakar 2022 – o exemplo de diversidade e inclusão tecnológica a seguir

Decorreu entre 1 e 14 de janeiro de 2022, mais uma edição da competição motorizada mais exigente do mundo – o Dakar.

Desde a sua primeira edição em 1979, denominando-se na altura “Rallye Oasis Paris Dakar”, que ligou Paris a Dakar, atravessando França, Argélia, Nigéria, Mali e Senegal, até à edição deste ano, que tal como no ano transato se realizou exclusivamente na Arábia Saudita, foram muitas as alterações ocorridas, atrevendo-me até a dizer que as únicas constantes, continuam a ser a dureza da prova e o espírito de aventura dos participantes.

Para além das já referidas alterações de percurso, devidas a vários fatores de natureza política, de pressão dos patrocinadores e de segurança, entre outros, foi sem dúvida a evolução tecnológica ocorrida nestes últimos 40 anos que ditaram as maiores transformações. Será hoje difícil de entender que alguma equipa ficasse perdida no deserto, sem qualquer contacto possível com quem quer que fosse. Mas acontecia e, decerto que alguns se lembrarão, até pelo mediatismo de que se revestiu, que Mark Tatcher, filho da então primeiro-ministro britânica, esteve desaparecido durante seis dias, em 1982, após o carro que tripulava ter tido uma avaria em pleno deserto do Sahara, valendo-lhe o exército Argelino, que o “achou”, juntamente com os seus companheiros de equipa, após uma apertada operação de busca envolvendo vários países e diversos meios aéreos.

A utilização da eletrónica e da georreferenciação são campos que muito contribuíram para as alterações de que falei, acompanhadas aliás por todas as outras áreas. Dos veículos – carros, motas e camiões, praticamente de série, que fizeram parte das primeiras edições, logo os construtores começaram a aplicar e a testar novos soluções, que vão desde a utilização de novos materiais, à aerodinâmica, às suspensões, transmissões, pneus e, naturalmente, aos grupos propulsores.

Sendo as provas automobilísticas laboratórios para o desenvolvimento de soluções tecnológicas a ser adotadas posteriormente nas viaturas do dia a dia, o Dakar é, pela sua exigência, o expoente máximo dessa experimentação.

 

No que diz respeito a grupos propulsores, diversas soluções se apresentaram no Dakar de 2022.

 

A Audi apresentou como novidade o RS Q e-tron, modelo que, apesar da força motriz ser 100% elétrica, se trata de um veículo híbrido que utiliza o motor de quatro cilindros 2.0 TFSI sobrealimentado, a gasolina, cuja função é atuar como gerador de corrente, de forma a recarregar a bateria, em conjunto com um motor elétrico com origem na Fórmula E.

 

A equipa KH-7 Epsilon, apresentou o habitual camião MAN 6×6, com o seu motor adaptado com um sistema híbrido duplo, que combina um combustível 100% renovável (HVO desenvolvido pela Repsol) com GPL.

 

Quanto a veículos movidos a hidrogénio, uma das novidades foi o camião da Gaussin, o H2 Racing Truck, que combina dois motores elétricos, uma pilha de combustível e uma bateria elétrica, considerado como um dos mais potentes camiões em prova.

Os tradicionais motores de combustão interna continuaram a representar a maioria dos grupos propulsores, embora tenham sido muitos os que testaram novos Combustíveis de Baixo Carbono. Foram disso um bom exemplo os 3 carros do Bahrain Raid Xtreme (BRX) que utilizaram um novo combustível sustentável, denominado Prodrive EcoPower, biocombustível de 2.ª geração, produzido a partir de resíduos agrícolas e da captura de carbono, que reduz as emissões de gases com efeito de estufa em 80%, quando comparado com a gasolina de origem fóssil.

 

As várias opções presentes no Dakar 2022 seguirão o seu caminho e, decerto, todas se irão complementar e conjuntamente colaborar para a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa provenientes do setor dos transportes.

 

Em pleno período de transição, rumo à tão desejada neutralidade climática, o Dakar 2022 foi um exemplo de diversidade tecnológica a seguir. Negarmos a neutralidade tecnológica, é o mesmo que negarmos a igualdade de direitos sociais aos cidadãos, baseando-nos em preconceitos étnicos, culturais ou religiosos. Excluirmos à partida, discricionariamente, uma ou outra solução tecnológica, é de um despotismo ideológico só comparável aos momentos mais tristes da história da humanidade.

João Reis, Assessor de Comunicação da Apetro