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B+Summit Portugal 2024 regressa para o debate dos biocombustíveis

Muitas questões e desafios, marcaram o regresso da B+ Summit Portugal 2024 a Lisboa

Aceleração, Ambição e Trabalho de equipa. Foram as estas as frases-chave na “ignição” dada por Anabela Antunes (PRIO e ABA) para a 2ª edição do B+Summit Portugal 2024.

Tendo por espaço anfitrião o Centro de Investigação Champalimaud, em Lisboa, os dias 1 e 2 de outubro foram pautados pelas apresentações, informação e partilha de trabalhos já concretizados, nomeadamente em Portugal.

O principal tema, claro, recaiu sobre a transição energética, descarbonização e, essencial, o papel dos biocombustíveis enquanto mais um dos principais atores à mistura energética necessária para a redução de emissões e cumprimento de metas ambientais.

Durante o B+Summit Portugal, houve palco e espaço para que os principais responsáveis pudessem responder às várias questões levantadas. Nomeadamente o cumprimento de regras na importação de matérias primas, o realismo do cumprimento das metas europeias, a diabolização e desmistifcação ao negativo dos biocombustíveis, e claro, a contínua esperança que “tudo vai correr bem” com base nas diversas e diferentes vetores que terão de fazer parte da descarbonização.

Num país, Portugal, que apenas apresenta 0.12% de emissões, dentro de uma escala de 1.5% ao nível europeu, não deixa de ser irónico, sermos, numa Europa a 27, os pioneiros no pelotão das soluções, contudo em luta desigual com os países “de fora”.

Por outro lado, face à dependência energética, e tendo a consciência da forma como os fatores geopolíticos nos afetam, é impossível dissociar os novos combustíveis dos tradicionais.

Ao mesmo tempo, não é aceitável que a partir de 2035, apenas possa haver uma única solução para, a exemplo, a mobilidade terrestre na Europa, estando-se agora a discutir, a nível da Comissão Europeia, a possiblidade em considerar novas formas energéticas de baixa emissão de carbono.

Tendo-se igualmente debatido o papel do Hidrogénio e, especialmente, Biometano para o futuro energético em Portugal, ponderando os prós e contras, também se relembrou a importância da (boa) gestão que deve ser feita quanto aos biorresíduos. O trabalho prático elaborado pelas principais gestoras de “lixos” nacionais, terá de ser fortemente duplicado e triplicado, para vetores de biocompostagem, digestão anaeróbia e claro, transformação energética.

Mais ainda, considerando a procura de uma sociedade, que não altera os seus padrões de consumo e é, em último caso, responsável pelo aumento exponencial de resíduos que, insiste, em não querer separar.

João Reis, da EPCOL, representando a PCBC, em palco durante a B+Summit Portugal 2024
Coletivo de membros da Plataforma de Combustíveis de Baixo Carbono, sendo fotografados, durante o evento B+ Summit Portugal 2024
Cokctail pós evento (no dia 1 de outubro) B+Summit 2024

B+ Summit Portugal 2024, conta com a presença da Plataforma de Biocombustíveis de Baixo Carbono

Verificando-se que a decisão política, (tutelar), é quem toma a última decisão  aos projetos em curso, alavancando a sua ampla aplicação, verifica-se que ainda há um longo caminho a percorrer, nomeadamente ao nível da diversidade de produção, abastecimento seguro e, de forma a transformar os recursos em algo endógeno, sem causar impactos negativos às regiões ou comunidades.

Num dos pontos debatidos, é de facto, necessário pensar-se numa descentralização do gás natural, passando para o compromisso de injeção e produção de biometano – isto prevendo-se um crsescimento na sua produção.

E se falamos em autoprodução, os membros da Plataforma de Combustíveis de Baixo Carbono que marcaram presença, encontravam-se alinhados com a perspetiva da utilização de matérias limpas para os setores que representam.

Em debate, Pedro Polónio, presidente da ANTRAM, defende que a descarbonização não pode ser vista como uma meta, mas sim como um caminho. E a má fama dos biocombustíveis tem de ser transformada em algo positiva, no qual se fale na eficência térmica, novas tecnologias e matérias-limpas que não são competidoras com produtos alimentares. Descreve também que “atualmente os biocombustíveis não são falados e não estão no mercado porque não estão na moda, não existe informação (ou não se quer que ela passe), porque são 30 cêntimos mais caros ao consumidor. Contudo, muito menos podem ser usados como bandeira ou “sonho político””.

Já António Comprido, secretário-geral da EPCOL, alerta para “uma realidade que nos vai acordar e fazer acelerar o caminho”. Uma vez mais considerando que a eletrificação não pode ser tida como um caminho único. Por outro lado, chama igualmente atenção aos problemas que se verificaram desde o início dos conflitos regionais europeus. A segurança energética era fortemente ignorada por ser um dado quase adquirido de abastecimento “eterno”, quando de repente tudo mudou. E quem fala na fonte das matérias-primas, fala na infraestrutura das redes elétricas e não só, nos pontos de abastecimento, nos pontos de carregamento. Tudo exemplos de algo que tem ainda de se desenvolver, pese a sua componente de elevada importância.

Simultaneamente a pergunta que todos temos de colocar é “como descarbonizar os combustíveis tradicionais, não os descartando de forma radical e impensada, mas sim, incorporar e substituir pelos novos e também pelo elétrico?” 

Nuno Carmo, representando a ANTROP, foi mais direto à possibilidade de aquisição de um combustível neutro profissional, com poder calorífero eficiente, e de valor semelhante ao atual, o que seria um passo à neutralidade carbónica no setor do transporte rodoviário.

Espera-se, contudo, que as novas políticas europeias, influenciadas por uma forte tradição da indústria alemã, possam dar uma nova força aos motores de combustão, usando energias de menor carbono, ou neutros. Isto até para dar uma resposta à forte influência asiática que se verifica mais no mercado de vendas europeu, bem como ao decréscimo na venda de elétricos.

Já a participação da Plataforma de Combustíveis de Baixo Carbono, representada na B+ Summit Portugal 2024 por João Reis (EPCOL), focou essencialmente os números atuais, já anteriormente referidos por outros dos palestrantes.

Assumindo uma posição vanguardista, a PCBC pretende que o caminho seja de transição e não de disrupção, que não coloque numa posição drástica e radical a eliminação dos combustíveis de origem fóssil. Acreditamos, aliás, que uma posição contrária, onde apenas uma hipótese é considerada, pode-se tornar perigosa. Focando também nas linhas que regem o Manifesto atual do grupo de associações e instituições académicas, continuamos a acreditar que a literacia deve ser fundamental numa sociedade que parece estar, cada vez mais, enviesada por ideias preconceituosas e sem fundamente científico.

Ao longo dos dois dias da B+ Summit Portugal 2024, brilhantemente organizado pela Associação de Bioenergia Avançada (ABA), ainda houve espaço para discutir o setor da mobilidade aérea e marítima, que vão dando os primeiros passos, conforme as possiblidades de incoporação por agora permitidas. Mais uma vez se coloca onde fica a cadeia de abastecimento. 

Já com a presença de Maria João Pereira, secretária de Estado da Energia, refere-se a aposta atual nos resíduos como fontes renováveis, mas também nos projetos de biometano, biogas, em prol de uma transição justa, por substituição dos combustíveis tradicionais.

Ainda assim, há que perceber que as linhas de ação propostas por muitos dos presentes devem ser lidas pelos decidores políticos, nomeadamente, incentivos fiscais e apoios financeiros que parecem óbvios e urgente – isto se quisermos ser agressivos, no ponto de vista nacional, para as metas de incorporação e ambientais.