APETRO

A captura de carbono pode desempenhar um papel crítico em diversos setores de difícil descarbonização

As tecnologias de captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS) podem desempenhar um papel importante na redução de emissões, não apenas no que diz respeito à geração de energia, mas também, e no curto prazo, no processo de transição para a utilização de energias mais limpas, pois podem neutralizar ou compensar emissões que atualmente são tecnicamente desafiadoras ou cuja resolução se apresenta proibitivamente dispendiosa, como na Indústria cimenteira, química, metalúrgica, e muitas outras, e no transporte de longo curso, terrestre, marítimo e aéreo.

 

É importante referir que as tecnologias de remoção de carbono não são uma alternativa ao corte de emissões, nem uma desculpa para atrasar ações necessárias à sua redução, mas podem fazer parte do portfólio de tecnologias e medidas necessárias para uma resposta abrangente às mudanças climáticas.

A edição deste ano do Energy Technology Perspectives, o guia global sobre tecnologias de energia limpa da Agência Internacional de Energia, terá um foco especial no CCUS, como forma de apoiar uma transição de longo prazo para um setor de energia mais limpo e resiliente, com emissões líquidas zero. Para apoiar essa análise, a AIE reuniu mais de 80 especialistas do governo, indústria, ONGs e instituições globais líderes num workshop de alto nível em Paris, onde o Dr. Fatih Birol, diretor executivo da AIE, que abriu o evento disse: “quando consideramos a escala do desafio de energia e clima, a importância crítica da captura de carbono é inevitável. O CCUS pode dar uma grande contribuição, e o workshop de hoje oferece uma oportunidade valiosa para refletir sobre o progresso e identificar como podemos construir uma base sólida para o CCUS na próxima década.”

Há pois necessidade de explorar o potencial das tecnologias de remoção de carbono pois, se a neutralidade carbónica, ou o “zero líquido”, significa que qualquer CO2 libertado na atmosfera resultante da atividade humana, é equilibrado através da remoção da mesma quantidade libertada, tornar-se “negativo em carbono” significa remover mais CO2 do que o que é libertado. As abordagens para atingir essas chamadas “emissões negativas” têm um potencial significativo para desempenhar um papel importante no cumprimento das metas internacionais do clima.

Isso ocorre porque o cumprimento de ambiciosas metas climáticas internacionais, pode exigir que as emissões globais de CO2 não apenas caiam para zero, mas que de facto caiam para valores abaixo de zero na segunda metade deste século, atingindo o que é conhecido como emissões líquidas negativas. No Relatório Especial sobre o aquecimento global de 1,5° C, do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), publicado no final de 2018, quase todas as vias analisadas pelos autores se basearam, em certa medida, em abordagens de remoção de carbono para obter emissões líquidas negativas após 2050.

Será interessante ver um trabalho recente da analista da AIE, Sara Budinis, que explora uma variedade de soluções para obter emissões negativas, destacando algumas mais promissores já em utilização atualmente.